Por Mariana Potrich
O processo terapêutico, seja para adultos ou crianças, dentre as diferentes linhas teóricas da psicologia, ocorre em sua base a partir de uma relação, esta, obviamente, sustentada pela técnica e apoiada em métodos e materiais. Contudo, para que este “encontro” alcance seus objetivos, o ambiente onde acontece tem relevância favorecedora.
Um espaço acolhedor e que inspire confiança é ponto de partida para planejar um espaço terapêutico. Contudo, há especificidades para cada momento, e para cada “mensagem” não verbal que se quer transmitir. No atendimento infantil é importante ofertar um espaço onde a criança possa “ser”, experimentar-se, imaginar e criar, muitas vezes desafiar-se, surpreender-se. Ali emergem muitos tipos de sentimentos, os quais nem a própria criança, por vezes, compreende.
Mas como planejar um ambiente onde exista continência e “espaço” para tudo isso?
A partir desta reflexão, então, é que propomos um diálogo sobre a importância do terapeuta considerar o espaço físico no setting terapêutico. Para nós terapeutas, os colegas arquitetos parecem, por vezes, imbuídos de poderes especiais, de forma semelhante à percepção do próprio terapeuta no imaginário infantil. Os arquitetos parecem ler mentes e transpor, em lindos desenhos tridimensionais, sentimentos e percepções subjetivas associadas às necessidades de infraestrutura e comodidade. Assim, se aliarmos as necessidades técnicas da psicologia à resolutiva funcional do planejamento arquitetônico será possível projetar um ambiente que possa configurar-se como mais um recurso de grande valia para os processos terapêuticos infantis.
No desenvolvimento infantil as brincadeiras são muito importantes, sendo a principal via de acesso a este pequeno sujeito em constituição. Assim, o ambiente em que as brincadeiras ocorrem exerce forte influência sobre a aquisição e manutenção de comportamentos. O espaço deve contemplar diversos estímulos estruturados, como jogos e brinquedos, bem como aqueles que proporcionam uma imaginação criativa, chamados de não-estruturados, como lápis, sucata, tintas, e tudo que possa simbolicamente transformar-se na necessidade de subjetivação.
Pensando assim, um ambiente funcional, prático, e imaginativamente instigante, pode configurar-se como um grande apoio. No entanto, o principal para projetar um espaço terapêutico é a escuta do que realmente é importante, e mais do que um visual agradável, este espaço não pode prescindir de sua função terapêutica. Ainda nesta questão, não podemos esquecer que quando falamos em atendimento de crianças, inevitavelmente estamos falando de família e/ou cuidadores, estes com papel preponderante nos processos de terapia infantil. Sendo assim, este espaço também necessita acolher esta família e mais ainda, proporcionar um local onde seja possível o diálogo entre esta criança e “seus adultos”.
Enfim, pensar o ambiente como mais um recurso na terapêutica infantil pode apresentar-se como uma estratégia fecunda, através da dialética interdisciplinar de áreas aparentemente distantes: psicologia e arquitetura.
Para finalizar esta reflexão, que tem por objetivo abrir espaço para que muitas outras aconteçam, compartilho da ideia do psiquiatra e psicoterapeuta Carl Jung, para quem, ao planejar um ambiente, projetar um espaço ou delimitar um plano terapêutico, prevaleça a premissa: